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quarta-feira, maio 05, 2010

Grandes Obras Públicas, problema ou solução - 2

A estratégia das grandes obras públicas, muitas financiadas com dívida externa em regime de PPP, fizeram de Portugal um dos países mais endividados da EU. Segundo dados do BIS, os bancos europeus têm maior exposição a Portugal do que à Grécia.

Greece:         USD 189 Bn
Portugal:      USD 240 Bn 
Spain:            USD 851 Bn
Fonte: FT, 30Abril10

Boa parte desta divida externa está nos sectores bancários e privados e inclui a dívida dos concessionários de PPP. E estes números ainda não reflectem os financiamentos comprometidos assinados em 2009, ano em que Portugal bateu todos os outros países em termos de novos contratos de PPP assinados. O grosso destes novos compromissos ainda não foram desembolsados, em parte porque os projectos ainda não tinham cumpridos as condições precedentes tais como o visto do Tribunal de Contas.

Por isso a estratégia de apostar em grandes obras públicas financiadas com dívida externa para promover o crescimento económico volta a ser questionada, e com razão.

De facto, o sobre-endividamento de Portugal retirou todo o espaço de manobra para despesas injustificadas, sejam elas despesas correntes de funcionamento, sejam despesas de capital.

E a justificação do investimento em projectos de infra-estrutura deve começar nas previsões de tráfego, da procura, não na criação de emprego e nas carteiras de encomendas do sector da construção.  Com contratos de PPPs baseados em pagamentos ou garantias do Estado-Concedente em regime de disponibilidade, corremos cada vez mais o risco do criar um conjunto de super-SCUT, sem cobranças mas também sem utilizadores. Isto deve-se ao facto de que nos contratos em regime de PPP os bancos já não necessitam de validar as previsões de tráfego, aumentando o risco de tráfego para todas a partes.

Somos recordados que o verdadeiro benefício, e a sustentabilidade orçamental,  está no tráfego. E é também o tráfego que gera a receita da Estradas de Portugal que passou a depender quase exclusivamente na Contribuição de Serviço Rodoviário.

Seria uma triste herança endividarmos as próximas gerações de portugueses, as crianças de hoje, para construir grandes obras públicas que ficarão às moscas, verdadeiros elefantes brancos, vide a A17. E será  ainda pior, não ter um consenso estável, responsável e devidamente aprovado e apoiado pelas maiorias parlamentares.

Mariana Abrantes de Sousa,   5-Maio-2010

Grandes Obras Públicas, problema ou solução, http://ppplusofonia.blogspot.com/2009/06/grandes-obras-publicas-prolema-ou.html
Pagamentos e garantias do Concedente  http://ppplusofonia.blogspot.com/2010/03/should-public-sector-guarantee-private.html
A Folia dos Fiados vista a partir da taberna da aldeia
Mais sobre a concessão Litoral Centro A17 http://ppplusofonia.blogspot.pt/2010/05/grandes-obras-publicas-problema-ou.html

11 comentários:

  1. O modelo de investimento de baixo retorno (baixo tráfego) financiado a crédito só contribui para a dívida externa.

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  2. Eis algumas grandes obreas alternativas para quem ficar na história:
    - Investir na matematica com aulas extra à tarde ao sábado de manhã para fazer os jóvens portugueses subir na tabela internacional do PISA, uma espécie de UEFA da matemática
    - Investir na reabilitação dos centros históricos, para realojar sobretudo os idosos e os jovens, e devolver as propriedades em ruinas às listas do IMI
    - Investir na limpeza e racionalização das florestas e pinhais
    - Investir na limpeza, na recolha de lixo e na qualidade das águas
    ....
    etc
    Há muito mais a fazer do que elefantes brancos

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  3. Em caso de desespero de causa, ler o manual de instruções

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  4. Investimento público tem de ser pensado a longo prazo ...

    - Economia - DN

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  5. "... no nosso país falta um modelo de desenvolvimento que seja partilhado sob a forma de um contrato estratégico entre o Estado e a sociedade civil" ... desperdiçam a oportunidade de fazer do QREN um aposta sustententada...para a competição na economia global..."

    "balanço de 20 anos de fundos comunitários em Portugal...Portugal é o país de auto-estradas com menos coesão terretorial ... e social"
    ...
    Público, 11-Maio-2010, pg 41

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  6. Pity the serious Portuguese politician who argues that fiscal probity calls for early belt-tightening...

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  7. Não é necessário ser especialista de finanças públicas como o PR para perceber que o "benefício está no tráfego".

    Ouvido nos Perdidos e Achados da SIC de 15-Maio-2010, António Leitão, medalhista nos 5.000m nas Olimpiadas de Los Angeles em 1984, recordou que agora temos mais de 80 pistas municipais de atletismo, a maioria fechadas por falta de utilizadores.
    Entretanto as crianças da escola não têm as condições mínimas par a pratica de desporto escolar.
    "um contra-senso", diz o recordista, "começar por cima, em vez de começar pela base".

    Desde Espinho, António Leitão continua bem à frente do pelotão.
    Parabéns!
    Volte a voltar a subir ao pódio!

    VER video em http://sic.sapo.pt/online/video/informacao/Perdidos+e+Achados/2010/5/antonio-leitao-venceu-medalha-de-bronze-nos-jogos-olimpicos-de-198415-05-2010-22446.htm

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  8. "Inflation on the rise in the UK. Think of all those PFI contracts with there RPI-adjusted tariffs..."

    Inflation-indexed PPP contracts do very well with negative real interest rates.
    Not so the taxpayers.

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  9. Grande oportunidade!
    Vende-se estrada semi-nova

    Auto estrada A10
    - 17km
    - faixas de rodagem: 3 (x2)
    - total de carros: 4

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  10. Obras que servem para pouco ou nada, sem utentes,
    e que pesam no bolso do contribuinte

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  11. Parcerias de privados com Estado ultrapassam os 51 mil milhões até 2017

    Governo inscreveu nas GOP a criação de uma estrutura para fazer acompanhamento rigoroso dos contratos.

    http://www.executivo.guarda.pt/ACTUALIDADE/NOTICIAS/OPAIS/Paginas/Parceriasdeprivadoscom.aspx?print

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