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domingo, setembro 16, 2012

O absurdo de só defender o credor

Debt workout 101 - part 16  The Stockholm Syndrome, when the debtor defends the creditor's interests

Quando a dívida é muita, o devedor dificilmente consegue pagar tudo e o credor é obrigado a facilitar o reembolso, aliviando as condições ou até perdoando parte da dívida, o célebre "haircut".
Alguém tem que sofrer perdas, o devedor, o credor, ou ambos em partes mais ou menos equitativas. O que está em causa nestes processos de contencioso de crédito (debt workout) é a partilha das perdas, o que implica renegociações sempre delicadas, renhidas e adversariais.

Por isso, pode ser útil  comparar a postura negocial do devedor subserviente perante o credor com o síndroma de Estocolmo, em que alguns reféns expressam empatia pelos seus captores, como delineada neste artigo em www.dinheirovivo.pt.
o Governo "... perdeu identidade política, confundiu-se com a troika, não foi capaz de manter a autonomia; e quando pareceu fazê-lo, na verdade revelou precisamente o contrário: ir além da troika traduz o desejo de ser aceite sem desconfiança pelos captores e capatazes. Eu sou como vocês - diz o primeiro-ministro - vejam como eu sou duro e troikiano"
Sabemos que, à partida, o credor está na mó de cima em qualquer renegociação.  Mas essa não pode ser uma situação absoluta, pois o credor também cometeu erros , ninguém o obrigou a emprestar demasiado.  Por isso, um dos princípios de boas praticas de contencioso de crédito é que, mesmo defendendo ferozmente os seus interesses, os credores e os devedores acabem por dar prioridade ao interesse comum de salvar o devedor para que este possa reembolsar mais e melhor ainda que mais tarde.  Para isto é necessário re-equilibrar o poder negocial a favor do devedor, o que geralmente se fáz através de um default disciplinado (orderly default) ou suspensão de pagamentos.

Sabemos bem que qualquer solução fortemente assimétrica e desequilibrada se vai revelar mais cedo ou mais como insustentável.  E os riscos do credor/vencedor impor soluções insustentáveis ao devedor/vencido podem ser catastróficos, como no caso do Tratado de Versailles de 1919 de triste memória.

Fonte: André Macedo,  O absurdo de só defender o captor, http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO059240.html

VER mais sobre Contencioso de Crédito e Debt Workout em
Debt workout 101 - Games borrowers and lenders play, part 1 
Debt workout 101 - Games borrower and lenders play, part 2 
Debt workout 101 - Games  borrowers and lenders play, part 3  Orderly default
Debt workout 101  - Lessons from past crisis, part 5
Debt workout 101 - part 6  Looking for the bottom
Debt workout 101 - part 7,  The D-word, down with the default taboo
Debt workout 101 - part 8  Stages of Grief in Eurozone countries
Debt workout 101 - part 9 US and UK banks increase exposure
Debt workout 101 - part 10 Estonia model of non-default and debt workout
Debt workout 101 - part 12 The benefits of a non-default
Debt workout 101- part 11  Creditors don't want to kn 
Debt workout 101 - part 13 Nobody forced the creditors to lend 
Debt workout 101 - part 14 The Estonia example 
Debt workout 101 - part 15 Early default could save the Euro
Debt workout 101 -part 16 Protecting the creditor
Debt workout 101- part 17 Lessons from a Baltic purgatory 

8 comentários:

  1. Eurozone debt workout is following rather unorthodox patterns, with avoidance of default at all costs, as credit exposure is shifted from the original private sector creditors to official multilateral creditors.
    One analyst suggests that some of the debtors may be suffering from the Stockholm syndrome, defending the interests of the creditors, rather than their own.
    What is your view of this?

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  2. Se querem êxito em Portugal, negoceiem as condições do ajustamento e do reembolso da dívida externa

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  3. Shocked, SHOCKED...
    É impressionante a suposta “indignação” dos políticos, e não só, com as medidas de austeridade, cada uma pior que a anterior, quando ninguém se indignou com o despesismo.

    Indignação tardia só se admite aos velhinhos da minha aldeia, que têm mais juízo do que “viver fiado”.

    Ao excesso de dívida externa juntamos um excesso de demagogia.
    Porque é que não saíram à rua há 3 anos quando já se sabia do iceberg da dívida?
    Mas, de facto, não basta o devedor apertar e apertar o cinto, é necessário obter concessões verdadeiras da parte dos credores, têm que partilhar o nosso sacrifício.
    Ninguém os obrigou a emprestar.
    A próxima fase vai exigir um tipo de “debt renegotiations” muito diferente do que temos tido, com pessoas com alguma experiencia de contencioso de crédito.

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  4. Com TSU ou sem TSU, temos que cortar os gastos de consumo, privado e público, já que temos andado a consumir fiado e a "dolorosa" tadou maa agora chegou de vez.
    Os Deputados que trabalhem para encontrar uma solução, é para isso que lhes pagamos.

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  5. Distress without Default?

    It's possible, see Financial Crisis Toolki http://pia.gmu.edu/system/documents/8968/original/Toolkit_Final_6_25_with_tabs.pdf?1340647596

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  6. O enfoque apenas nas contas orçamentais representa uma grande miopia.
    - Portugal necessita sobretudo reduzir o défice externo (CAB)
    - Portugal necessita de negociar o financiamento externo à economia, à pre-exportação e às empresas

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  7. Enquanto o bailout vai e vem, folgam (alguns) credores

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  8. Tentar reestruturar a dívida no mercado aberto é um esforço louvável, mas no fundo, inglório.
    De que adianta trocar €10 mil milhões de dívida pública para conseguir mais 2 anos a uma taxa de 5,12% quando urge reescalonar €200 mil milhões de dívida externa a 20 anos e a taxas de 2%?
    É como cavar terra com um garfo.

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